terça-feira, 11 de setembro de 2012
Dom José Alberto Moura fala sobre "Curar"
Hoje é muito recorrente a depressão ao nível psicológico ou emocional. As causas são variadas. As consequências são de tristeza, desânimo, angústia e perda de vontade de viver. Há também a “depressão” no sentido espiritual. As decepções devido aos limites pessoais que impedem a consecução de vida mais saudável nas relações familiares, eclesiais e sociais se dão como ocasionantes para essa situação. A desilusão por maus exemplos de outros, por não se obter uma graça ou até um milagre ou por oração supostamente não atendida são também motivos dessa situação. As consequências se notam no descompromisso com uma fé atuante, com as obrigações em relação à comunidade religiosa e a sociedade em geral. Desanima-se da prática das virtudes humanas e sobrenaturais. O sentido da vida fica ofuscado.
O profeta Isaías é encarregado por Deus para dizer ao povo: ”Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus... é ele que vem para vos salvar” (35, 4). A cura da alma não descarta também o suporte da cura da mente e do corpo. O milagre Deus faz, sem dúvida, mas Ele não dispensa nossa parte do cuidado. Não bastam ritos para a cura. Nem mesmo a cura em si é finalidade. Há quem tenha boa saúde em todos os níveis e pode não fazer o bem apresentado por Deus. A boa saúde tem hipoteca social e de ideal de amar e servir. A saúde adequada é a que sintoniza a sanidade com sua finalidade do altruísmo, assim como os bens materiais em relação ao bem social. O próprio Jesus lembra a necessidade de se dar a vida para se ter vida realizada. Somente ganha para si quem der de si pelo bem do outro.
A fé religiosa sólida leva a pessoa a superar o desânimo, a solidão, as decepções, os sofrimentos e qualquer tipo de obstáculo com a absoluta confiança em Deus. Quando se faz tudo por amor a Ele as dificuldades são vencidas e o esforço de superá-las é sublimado pelo amor.
Jesus, dentre tantos milagres de cura, abordou um surdo-mudo e disse: “Efatá!”, ou seja “Abre-te” (Marcos 7, 34). O homem ficou curado instantaneamente e começou a ouvir e falar. Isso acontece, não só no aspecto físico, com quem tem fé em Deus. Sucede amplamente no sentido da vida, que se amplia e toca o horizonte do maior valor e de realização plena da pessoa. O Filho de Deus mesmo veio para dar vida plena a todos, ou seja, vida de total sentido e realização humana. Esta não se baseia tão somente e acima de tudo na dimensão material e transitória da vida. Há até os que têm quase tudo na vida e não são felizes. A realização humana só acontece quando o ser humano tem o equilíbrio ou a relação adequada de referência consigo mesmo, com o semelhante, com a natureza e com o Criador. O que é material é apenas instrumento. Quando bem utilizado, com a referência nesse equilíbrio, pode ser de ajuda. Quando há o desequilíbrio, é preciso haver ajuste ou cura para a harmonização realizadora. O próprio Mestre Divino nos ensina o caminho de fazer isso. Basta segui-lo. O caminho dele é exigente, mais estreito, ensina renúncias para opção mais ajustada à consecução do ideal da caminhada existencial. Todas as “depressões” são superadas no encalço de suas pegadas. Se não soubermos bem como fazê-lo, é só ouvir sua voz que ressoa em nossas consciências, na sua Palavra e nos acontecimentos.
Dom José Alberto Moura
Arcebispo metropolitano de Montes Claros.
Fonte: Arquimoc
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário