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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Católicos, que sejam 20%

Análise das conclusões do IBGE sobre a diminuição de católicos

Por Luiz Eduardo Cantarelli

BELO HORIZONTE, sexta-feira, 27 de julho de 2012 (ZENIT.org) - Nem todos futuros são para desejar, porque há muitos futuros para se temer. (Pe Antônio Vieira).

SS Bento XVI diante de milhares de presentes no Vaticano

Em 1970, os católicos eram 90% dos brasileiros. Hoje, segundo o IBGE, são 64,6%, ou seja, 26%, uma massa de 37 milhões – uma Argentina de gente –, deixou de ser católica. Ao seu estilo, Nelson Rodrigues preconizava na década de 70 que o Brasil seria, no futuro, o maior país de ex-católicos do mundo.

Para onde partem os católicos? Na sua grande maioria, seguem para as, assim chamadas, religiões evangélicas, principalmente para as de cunho pentecostal e autônomas. No último censo, os protestantes subiram de 15% para 22,2%, dentre estes, estão os tradicionais que ficaram patinando nos 4%.

O espiritismo, que na década de 50 pensou-se que seria a religião do Brasil, estacou em 2%. Os “sem religião” margeiam os 8%, sendo que os 3% restantes estão espalhados nas diversas outras propostas religiosas. Então, basicamente, o funil de saída é para o protestantismo e, daí, parte deles migra para os “sem religião” – o que não quer dizer que se tornam ateus.

Quando estancará o vertedouro de escoamento é uma incógnita, pois vários são os fatores, objetivos e subjetivos interferentes nesse processo, alguns destes relevantes que ouso explicar o movimento.

  O primeiro: o “espírito do tempo” que estamos vivenciando, um mundo plural, em que a morte do passado nos revela que tradição não dá mais liga e o individualismo é o senhor da razão. Nesta nova visão de mundo, tem muito pouco valor aquilo em que os antepassados creram e viveram. A experimentação do novo e a curiosidade do desconhecido soam forte em cada um.

Segundo Dr. Flávio Pierucchi, da USP: “Uma sociedade que não precisa mais de Deus para se legitimar, se manter coesa, se governar e dar sentido à vida social, mas que, no âmbito dos indivíduos, consome e paga bem pelos serviços prestados em nome dEle”.

A humanidade já viveu uma experiência parecida em meados do século XIX, com a crise Católica da negação do modernismo, acrescida do movimento milenarista e do sucesso da ciência insipiente, que tudo parecia provar e demonstrar. Naquela trajetória, nasceram o Positivismo, o Espiritismo, o Adventismo, os Mórmons, as Testemunhas de Jeová, a Teosofia, o Exército da Salvação e tantas outras religiões. Eram propostas notadamente anticatólicas, porém, inovadoras e muitas dessas permaneceram no tempo.

Paradoxalmente, podemos considerar o movimento religioso evangélico atual fugaz e consonante com a onda consumista. É fragmentado em milhares de denominações que seguem o discurso do pastor fundador e, na maioria das vezes, com uma adaptação racional e funcional do evangelho às necessidades pessoais – uma forma híbrida de autoajuda.

O segundo: foi no Brasil que ocorreu em menor espaço de tempo o êxodo rural – o deslocamento de grandes massas de gente do campo para as cidades. Foram 35 milhões de migrantes que incharam as grandes cidades, principalmente nas periferias. Note-se que foi aí que se deu o maior número de conversões. (Antoniazzi). Assim, no impacto da perda de espaços e de valores que norteavam a família, estes se diluíram, influenciando e transformando as gerações que se seguiram. Nesse cenário decomposto, muitas vezes a escolha da religião é motivada pela ocasião.

O terceiro: a quantidade de propostas e igrejas que concorrem no mercado religioso. O espaço sagrado da Igreja, como o católico o qualifica, altera-se no protestantismo – ali, o sagrado é o coração do homem. O espaço físico pode ser oriundo de um açougue, uma funerária ou outro prédio qualquer.

Nessa facilidade de produzir igrejas e congregações, as ofertas são muitíssimas. Associado aos milhares de pequenos movimentos, há a força das “amplas vitrines”, que são as grandes igrejas evangélicas mediáticas, nas quais a maximização dos lucros é a “teologia sonhada”. Fazem uso dos mecanismos de mercado como franquias, cartões de crédito, bancos, etc. Dezenas de milhões de reais são investidos, por mês, na TV, que é concessão do Estado, para apresentar-se em horário nobre, com “milagres” de hora marcada e ao vivo.

De modo descarado, ainda segundo Pierucchi, “o discurso proferido dos fieis para com Deus, que sustentou a civilização judaico-cristã e islâmica desde as origens, agora tem sua direção invertida pela nova cristandade que proclama que Deus é fiel, o fiel é Deus. Investimento seguro, vale dizer”.

O quarto: e o mais relevante, a falta de testemunho, pelos católicos, é o principal motivo alegado para a saída de muitos. Talvez o homem contemporâneo necessite mais do que pregação. Ele precisa de testemunhos reais e tangíveis.

A Igreja Católica é similar a uma arca. Com suas múltiplas espiritualidades, tem lugar para a heterogeneidade, embora também carregue uma contradição interna na qual não mais que 30% dos que se dizem católicos são habituais frequentadores da igreja. Os outros 70% orbitam em torno dela nas necessidades sociais e nos ritos de passagem como: batismo, casamento e velórios. Estes são os católicos nominais que estão incluídos nos citados 64% do IBGE, alguns deles com aversão à religião, mas, por uma tênue teia do passado, se mantêm ligados à Igreja. Outros frequentam novas propostas religiosas/filosóficas que ainda não constam no questionário do Censo e há uma grande parcela de católicos que está aguardando um “insight” com a Transcendência. Muitas vezes a Igreja não sabe lidar com essa realidade. São os que se dizem “católicos não praticantes”. Estes formam o estoque dos futuros ex-católicos. Como dizia D. Eugênio Sales: “O problema da Igreja não são os evangélicos, mas sim os falsos católicos”.

Embora os processos históricos muitas vezes tornem-se arrebatadores e incontornáveis, na visão da hierarquia, a Igreja Católica no Brasil tem se preocupado com o êxodo dos seus fieis. Aperfeiçoa a formação dos sacerdotes, enriquece e alegra os ritos, prioriza a caridade, e o que não se pode providenciar humanamente, a Providência Divina assume. Não obstante, essas atitudes não são suficientes para conter o êxodo católico. O “estrago” será tão grande nas hostes católicas que só no distante futuro poder-se-á avaliá-lo - como aconteceu na percepção histórica da reforma luterana, no século XVI.   

O monopólio católico de 500 anos está se desmilinguindo e sendo criada, a partir daí, uma nova força política religiosa contrária às tradições católicas. Resultado desse processo, que não é mais embrionário, pode ser observado nas Minas Gerais, de tradição católica. A principal avenida de entrada de Belo Horizonte, Nossa Senhora do Carmo, passou a se chamar Senhora do Carmo. De notar, também, que a Igreja Assembleia de Deus projeta eleger, este ano, 5.600 vereadores em todo o país, além de investir pesadamente em compra de redes de Rádio e TV (Folha de São Paulo, 22/7). Interessante observar que nessa Igreja, até a década de 90, ver televisão e ouvir rádio era considerado pecado. Mudaram a doutrina para não perder o “boom” do crescimento. Quem viver, verá!

Mortos, levantai-vos!, preconizava Dom Sebastião Leme em Olinda no início do século XX quando da parcimônia dos católicos frente ao seu isolamento na República nascente. Hoje, poderíamos repetir o discurso. Levantai-vos para conhecer a Igreja; para integrar-se na comunhão dos santos, de que a Igreja é portadora; não vos constrangeis frente a essa tempestade de ofertas de discursos religiosos eloquentes.

Somos testemunhas de milhares de servidores consagrados, bispos, padres, freiras, leigos que se desgastam em vida, como vela no altar, em prol do outro e da Igreja. Se faltam pastores ou estão assoberbados de trabalho, atendamos o apelo bíblico; “sede-vos mesmos”, líderes para evangelizar.  Se somos filhos de uma Igreja que é a genitora de todas as outras, porque estaríamos equivocados? Por acaso, colhe-se maçãs de laranjeiras?

No livro “Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental” central de qualquer civilização. Ao longo de dois mil anos, a maneira de o homem ocidental pensar sobre Deus deve-se sem a menor dúvida à Igreja Católica.

Quando perguntaram a G.K Chesterton, escritor inglês, ex-anglicano, porque é que entrou para a Igreja Romana, ele respondeu: Para me libertar dos meus pecados, porque não há outro sistema religioso que ensina as pessoas (se o professam realmente) a libertarem-se dos seus pecados. (Autobiografia, p.280).

O testemunho de Marco Monteiro Grillo, ex-luterano e agora católico convicto: Se uma igreja que remonta a Cristo e aos apóstolos, em que o subjetivismo simplesmente não existe, e onde uma autoridade visível (o magistério) sempre foi e será responsável pela salvaguarda da fé, essa Igreja só pode ser a Igreja Católica Apostólica Romana, essa Igreja que não está sujeita às intempéries da história, nem aos modismos de cada época, nem aos gostos dos fregueses.

Se no futuro os católicos, mesmo sendo 20% da população, forem comprometidos com Cristo e a Igreja dEle, éticos na vida social e em todos os demais sentidos, a Igreja, que são todos, já terá cumprido a sua missão. Os exemplos atraem.

Luiz Eduardo Cantarelli é jornalista – pós-graduado em Ciência da Religião.

Belo Horizonte – Minas Gerais


Fonte: Zenit

2 comentários:

  1. POR ISSO NÃO PODEM SALVAR-SE AQUELES SABENDO QUE A IGREJA CATÓLICA... Catecismo Católico, n° 846
    A Igreja não perde fiéis, mas de quem se diz católico, de falsos membros, desconhecedores dela e sua fundamentação teológica, de Jesus, Ele mesmo, veja Cl 1, 18; Cl 1,22, Ef 1.22-23 e 1 Cor 12.,12+ etc., cujo número confiável, sabedor do por que de ser pertencer à Igreja é muito baixo. A prova disso que tantas injustiças grassam e há muita participação de supostos católicos, inclusive aliando-se a seitas, espiritismo, maçonaria, partidos socialistas e comunistas e à herética, socialista e esquerdista Teologia da Libertação - TL - e a mais outras incompatibilidades na fé da Igreja.
    É muito relativo o crescimento evangélico: subdividem-se em cerca de 35 000 partidos religiosos, sem contar as não denominacionais, onde cada um interpreta como quer ou convém a Bíblia; até a homilia do pastor é submetida a crivo pessoal, sujeita à aprovação. Há as aceitando batismo de crianças, outras não; a Eucaristia em algumas é símbolo, a outras Presença Real e milhares de paradoxos e sectários acusam-se mutuamente de hereges!
    Quase todas têem cultos semelhantes a centros espíritas: gritaria, rodopios, aparentes transes, expulsão de supostos maus espíritos para curas - ao se enfermarem os pastores não convocam outro pastor para proceder a expulsão do diabo em si, vão ao médico... Afinal, que evangélicos são esses? Antes, não eram católicos de fato; agora facções desagregadas, reunidos fisicamente porém com as mentes e os corações distantes uns dos outros doutrinário-exegéticamente, apenas volume sem qualidade. Em Mt 12,25 ...reinos divididos contra si mesmos...", uma massa religiosa disforme, ultra relativista servindo-se em um imenso restaurante de mais de 35 000 seitas, "self-services", com cardápio doutrinário à escolha de cada cliente...
    Interessante: idem na Igreja ou doutro lado: migrando de seita em seita, sempre se batizando - um pastor de uma igreja não confia no outro - à procura de uma "igreja boa, mais ideal". Há-as aprovando aborto, outras adultério, outras homosexualismo, etc. E ao supostamente evangelizarem é a critério pessoal: uma imensa babel evangelista no mais absoluto relativismo bíblico-hermenêutico! Que qualidade e vantagem há nisso?
    Convém possuir 1 amigo confiável ou nenhum; descartam-se 100 aparentando-o; aliás, certos supostos católicos, por sinal infiéis, indesejosos de mudarem-se, o lugar ideal seja nas seitas; sentir-se-ão à vontade nesses amontoados religiosos disformes, vazios, apropriadas a ignorantes, egoísticas, soberbas. Ou interesseiras, outro caso. Aliás, aí permanecer ou montar outra seita para si dá no mesmo.
    Acaso há vantagem na atual massa católica descompromissada com a Igreja elegendo presidente e representantes nos poderes a pessoas e partidos anti Cristo e à Igreja, implantando com seu aval leis anticristãs homicidas, como aborto, adultério, homossexualismo etc., o caso dos adeptos da esquerdista TL que repassa a doutrina católica subvertida, sutilmente camuflada sob a ótica marxista e outras abominações anti cristãs?
    E pior: após o poder centrar-se em ateus e materialistas eleitos por católicos(?) dá nisso: subvertem a fé cristã com a ajuda desses membros apostasiados, assim poderão facilmente subverter a a sociedade em múltiplas heterogeneidades ideológico-cristãs, materialistas, ateias e esoteristas etc., facilitando a implantação do reino da injustiça, com o aval desses mesmos alienados à fé.
    1 Jo 2,19: Eles saíram de entre nós, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos teriam permanecido conosco.
    Veja no "You Tube" pastores famosos evangélicos como "se amam" em recíprocas e várias acusações, inclusive de pertença formal à maçonaria... E a heresia do pastor(?) V Santiago: "cruz é sinônimo de maldição, palhaçada"...

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    1. Obrigado pela contribuição Stefan. Que Jesus seja sua Luz e sua Salvação!

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