De longe o maior capítulo do livro é “A Igreja e a Ciência”. Todos nós já ouvimos muito sobre uma alegada hostilidade da Igreja para a Ciência. O que a maioria das pessoas falha em reconhecer é que historiadores da ciência gastaram a última metade de século revisando drasticamente esse conhecimento popular, argumentando que o papel da Igreja no desenvolvimento da ciência ocidental foi muito mais salutar do que era imaginado.E eu não estou falando de apologistas católicos, mas acadêmicos importantes e sérios da história da Ciência, como J.L. Heilbron, A.C. Crombie, David Lindberg, Edward Grant, e Thomas Goldstein.
É muito bom salientar que cientistas importantes, como Louis Pasteur, eram católicos. Mais revelador é quantos padres foram capaz de se distinguir nas ciência.
Acontece que, por exemplo, a primeira pessoa a medir a taxa de aceleração de um corpo caindo livremente foi o Padre Giambattista Riccioli. O homem que é chamado o pai da Egiptologia é o Padre Athanasius Kircher (também chamado “o mestre das centenas de artes” pelo tamanho de seu conhecimento). Padre Roger Boscovich, que foi descrito como “o maior gênio que a Iugoslávia já produziu”, é frequentemente considerado como o pai da teoria atômica moderna.
Nas ciência foram os Jesuítas que se destacaram particularmente; cerca de 35 crateras na lua, na verdade, são nomeados após cientistas ou matemáticos Jesuítas.
Pelo século dezoito, os Jesuítas contribuíram para o desenvolvimento de relógios de pêndulo, pantógrafos, barômetros, telescópios e microscópios refletores, até para campos científicos variados como magnetismo, ótica e eletricidade. Eles observam, em alguns casos antes de quaisquer outros, as faixas coloridas na superfície de Júpiter, a nebulosa de Andrômeda e os anéis de Saturno. Eles teorizaram sobre a circulação de sangue (independentemente de Harvey), a possibilidade de voar, a maneira com que a Lua afeta as marés e a natureza ondular da luz. Mapas estrelares do hemisfério Sul, lógica simbólica, maneiras de controlas enchentes nos rios Po e Adige, introduziram os sinais de mais e menos na matemática Italiana – todas foram realizações tipicamente jesuíticas, e cientistas influentes como Fermat, Huygens, Leibniz e Newton não estão sozinhos ao considerar jesuítas como um dos seus parceiros mais valorosos [Jonathan Wright, The Jesuits, 2004, p. 189].
Sismologia, o estudo de terremotos, foi tão dominada pelos jesuítas que passou a ser conhecida como “a ciência dos Jesuítas”. Foi um Jesuíta, Pe. J.B. Macelwane, que escreveu a Introdução à Sismologia Teórica, o primeiro livro de sismologia na América, em 1936. Até hoje a American Geophysical Union, que o Pe. Macelwane um dia presidiu, dá uma medalha anual nomeada após esse brilhante padre para jovens promessas da geofísica.
Os Jesuítas também foram os primeiros a introduzir a ciência Ocidental em lugares distantes como China e Índia. No século dezessete, em particular na China, jesuítas introduziram um corpo substancial de conhecimento científico e uma vasta matriz de ferramentas mentais para entender o Universo físico, incluindo a geometria Euclidiana que tornou os movimentos planetários compreensíveis. Jesuítas fizeram importantes contribuições para o conhecimento científico e a infraestrutura de outras nações menos desenvolvidas, mas não só na Ásia, mas também na África e na América Central e do Sul. No principio do século dezenove, esses continentes viram a abertura de observatórios Jesuítas que estudaram tantos campos como astronomia, geomagnetismo, meteorologia, sismologia e física solar. Esses observatórios providenciaram a esses lugares com acuradas previsão e controle do tempo (particularmente importantes em casos de furacões e tufões), riscos de terremotos e cartografia. Na América Central e do Sul o trabalho dos Jesuítas na meteorologia e sismologia, praticamente fundaram o estudo dessas disciplinas por aqui. O desenvolvimento científico desses países, cobrindo do Equador ao Líbano e às Filipinas, está em dívida com os esforços jesuítas.
O caso Galileu é frequentemente citado como evidência da hostilidade católica para a ciência, e Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental dá uma olhada mais de perto nessa matéria. Para agora, apenas um fato pouco conhecido: catedrais católicas em Bologna, Florença, Paris e Roma foram construídas com a função de observatórios solares. Nenhum instrumento mais preciso para observar o movimento aparente do Sol poderia ser achado em qualquer lugar do mundo. Quando Johannes Kepler postulou que as órbitas planetárias eram mais elípticas do que circulares, foi o astrônomo católico Giovanni Cassini que verificou as posições de Kepler na Basílica de São Petrônio, o coração dos Estados Papais. Cassini, a propósito, foi um estudante de Pe. Riccioli e do Pe. Francesco Grimaldi, o grande astrônomo que descobriu a difração da luz e que inclusive dá seu nome ao fenômeno.
Eu tentei preencher o livro com pequenos fatos desconhecidos como esse.
Dizer que a Igreja teve um papel positivo no desenvolvimento da Ciência já se tornou uma posição absolutamente mainstream,mesmo que esse novo consenso ainda não tenha conseguido se agarrar ao público em geral. Na verdade, Stanley Jaki, durante o decorrer de uma carreira acadêmica extraordinária, desenvolveu um argumento muito forte de que foram importantes aspectos da visão de mundo Cristã que explicam porque foi no Ocidente que a ciência conseguiu ter o sucesso que teve como empreitada auto-sustentável. Culturas não-cristãs não possuíam as mesmas ferramentas filosóficas, e, de fato, estavam sobrecarregadas por marcos conceituais que impediam o desenvolvimento da ciência. Jaki estende sua tese para sete grandes culturas: da Arábia, Babilônia, Chinesa, Egípcia, Grega, Hindu e Maia. Nessas culturas, Jaki explica que a ciência surgiu como “o nascimento de uma criança morta”. Meu livro dá atenção e explica o trabalho de Jaki.
Pensamento econômico é outra área em que mais e mais acadêmicos começaram a perceber o anteriormente negligenciado papel de pensadores Católicos. Joseph Schumpeter, um dos maiores economistas da século vinte, fez homenagens para as contribuições negligenciadas de escolásticos – a maioria de teólogos espanhóis do século dezesseis e dezessete – no seu magistral livro A História da Análise Econômica (1954). “Foram eles”, escreveu o autor, “que chegaram mais perto do que qualquer outro grupo como os “fundadores” da ciência econômica”. Ao devotar atenção acadêmica para esse, infelizmente, capítulo negligenciado na história do pensamento econômico, Schumpeter foi seguido por outros talentosos acadêmicos pelo século vinte, incluindo os Professores Raymond de Roover, Marjorie Grice-Hutchinson, e Alejandro Chafuen.
A Igreja também teve um papel indispensável em outro desenvolvimento essencial da Civilização Ocidental: a criação das Universidades. A Universidade foi um fenômeno completamente novo na história da Europa. Nada como elas existiu na Grécia Antiga e Roma. A Instituição que nós conhecemos hoje, com suas faculdades, cursos, examinadores e graus, como a familiar distinção entre o estudioso diplomado e não diplomado, vem a nós diretamente do mundo medieval. E não é surpresa que a Igreja tenha feito tanto para promover o nascimento do sistema universitário, já que a Igreja, segundo o historiador Lowrie Daly, “era a única instituição na Europa que mostrava interesse consistente na preservação e cultivo do conhecimento”.
Os Papas e outros homens da Igreja classificaram as Universidades entre as maiores joias da civilização cristã. Era típico ouvir que a Universidade de Paris era a “nova Atenas” – uma designação que nos traz à mente as ambições do grande Alcuin do período Carolíngio vários séculos antes, que foi através dos seus próprios esforços educacionais para estabelecer a nova Atenas no reino dos Francos. Papa Inocêncio IV (1243-54) descreveu as universidades como “os rios de ciência na qual a água faz fértil o solo da Igreja universal” e Papa Alexandre IV (1254-61) as chamou de “as lanternas trazendo luz na casa de Deus”. E os Papas não merecem pequenos créditos para o crescimento e sucesso do sistema Universitário. “Graças a constante intervenção do papado”, escreve o historiador Henri Daniel-Roops, “educação superior se estendeu além dos seus limites; a Igreja, na verdade, foi a matriz que produziu a universidade, o ninho de onde levantou voo.”
Em matérias de fato, uma das maiores e mais importantescontribuições para a ciência moderna foi essencialmente o livre questionamento do sistema universitário, onde acadêmicos podiam debater e discutir propostas e no qual a utilidade da razão humana foi reconhecida. Contrariamente a grosseiramente inadequada figura da Idade Média que permeia o senso comum de hoje, a vida intelectual medieval fez contribuições indispensáveis para a Civilização Ocidental. No seu livro The Beginnings of Western Science (1992), David Lindberg escreve:
“Deve ser enfaticamente constatado que dentro desse sistema de educação medieval havia uma grande quantidade de liberdade. O estereótipo da Idade Média do professor covarde e subserviente, um escravo seguindo Aristóteles e os pais da Igreja (exatamente como alguém poderiam ser escravos dos dois, o estereótipo não explica), com medo de sair de linha que demandavam as autoridades. Haviam limitações teológicas, é claro, mas dentro desses limites os mestres medievais tinham uma notável liberdade de pensamento e expressão; não havia praticamente doutrinada, filosófica ou teológica, que não era submetida a escrutínio e criticismo pelos acadêmicos na Universidade medieval.”
“Acadêmicos da Idade Média Tardia,” conclui Lindberg, “criaram uma ampla tradição intelectual, em cujo ausência o progresso na filosofia natural teria sido inconcebível.”
O Historiador da ciência Edward Grant concorda com esse julgamento:
O que fez possível para a Civilização Ocidental desenvolver a ciência e os estudos humanos de uma maneira pela qual nenhuma civilização tinha feito antes? A resposta, eu estou convencido, está em um penetrante e profundo espírito de questionamento que foi uma consequência natural na ênfase dada à razão que começou na Idade Média. Com exceção das verdades reveladas, a razão foi entronada como o último árbitro para a maioria das discussões e controvérsias. Foi praticamente natural que acadêmicos imersos em um sistema universitário usassem da razão para provar em assuntos e áreas que não tinham sido explorados antes, como também para discutir possibilidades que não tinham sido seriamente consideradas anteriormente.
A criação da Universidade, o compromisso com a razão e a argumentação racional, e o espírito geral de questionamento que caracterizam a vida intelectual medieval equivalem a “um presente que a Idade Média Latina deu para o mundo moderno… embora seja um presente que possa nunca ser descoberto. Provavelmente sempre irá manter o status que teve dos últimos quatro século como o segredo mais bem guardado da civilização Ocidental.”
Fonte: Blog Grupo Renascer
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