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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Fé e Política. Meter-se na política como Santa Catarina de Sena


Quando um cristão, em nome da sua fé, levanta a voz em questões de moral social, de justiça, de solidariedade, de partilha de bens, há sempre quem diga: está a meter-se na política. Pois sim, claro que é meter-se na politica. Mas não dizer nada, ou falar só de família e sexualidade, também é meter-se na política. A questão não é se fazemos ou não fazemos política, porque qualquer coisa que façamos é sempre política. A questão é sobre o tipo de política que fazemos e porque fazemos esse tipo de política.

Santa Catarina de Sena, padroeira da Europa, cuja festa se celebra a 29 de abril, meteu-se na política. A vocação orante de Catarina compagina-se perfeitamente com as suas engenhosas maneiras de servir os pobres. Ela sai à rua para se ocupar dos enfermos com doenças contagiosas, que ninguém quer atender e que sofrem uma contínua solidão. Escuta com atenção o grito dos pobres, dos doentes, novos Cristos sofredores. Quanto mais Catarina avança na vida do Espírito, tanto mais se compromete com o mundo. Identificada plenamente com os sentimentos de Cristo, converte-se numa pregadora itinerante que tem a rua como púlpito. E, com a sua escassa cultura, fala com sabedoria perante as autoridades e até perante o próprio Papa, diante de políticos e de eclesiásticos, desafiando-os a mudar de atitudes. Algo inédito para uma mulher de 25 anos, no século XIV. Seria muito atrevido apresentá-la com as características de algumas indignadas de hoje que com uma idade similar têm reclamado outra política e outra economia nas praças e nas ruas das cidades espanholas?

Em todo o caso, Catarina de Sena é um claro exemplo de que quanto mais se está enraizado em Deus, tanto melhor se é apóstolo. Uma coisa leva à outra, pois a oração nunca é uma evasão das nossas responsabilidades terrenas, nem a mística um esquecimento das necessidades da terra. Ao contrário, a contemplação das coisas divinas leva-nos a uma visão apurada das misérias e dores humanas. A união com Deus mostra a sua autenticidade no serviço ao próximo. Amor a Deus e amor ao próximo são inseparáveis; e um é a melhor prova do outro.

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O PAPEL POLÍTICO DE SANTA CATARINA DE SENA NO SÉCULO XIV
Autora: Elessandra Souza Bitencourt

Dentro deste enfoque temporal e político, meu objeto de pesquisa é a ação política de uma mulher no desfecho deste “exílio”: Santa Catarina de Sena. Pela pesquisa realizada, pôde-se constatar que não há uma conclusão formada a respeito do valor de sua intervenção para que o retorno da sede papal, sob o governo de Gregório XI, viesse a se concretizar. Alguns historiadores apenas citam em breves linhas, mencionando o fato, outros questionam se realmente haveria importância sua visita a Gregório XI, seus biógrafos apontam como fundamentais suas cartas e sua visita ao Papa para que este tivesse coragem para retornar à Itália.

Aprofundando na vida de Catarina Benicasa foram surgindo outros fatos políticos em que Catarina viria se envolver, demonstrando ser uma mulher medieval singular, contudo faz se mister recordar que não é a única mulher a se envolver em questões políticasneste período. Sua ação vem desmistificar a figura de uma mulher submissa e quase que somente manipulada dentro da história medieval, somente isto seria um grande motivo parao estudo da vida de Catarina, bem como de sua ação política em seu curto espaço de vida. Faleceu aos 33 anos.



Utilizo como fonte oito cartas escritas por ela a personagens importantes de seu tempo, como ao próprio Papa Gregório XI que foi quem trasladou a corte papal de volta a Roma. Gregório XI já cogitava a possibilidade de retorno em 1375, antes da comitiva de Catarina, chegar a Avignon, mas não se pode desprezar seu papel de encorajamento do Papa diante dos cardeais franceses que o pressionavam a ficar e este encorajamento é percebido em suas cartas.

Considero a pesquisa sobre a vida de Santa Catarina fascinante porque em seus escritos e nas ações, ela demonstra ser uma mulher de seu tempo, com uma mentalidade medieval, contudo, ela também é uma mulher além de seu tempo, por varias concepções inovadoras e iniciativas de reforma da Igreja Católica. Ela foi uma virgem consagrada como outras mulheres, mas com um diferencial em suas relações políticas com governantes no mundo secular e religioso. Inseriu-se em questões de guerra e foi uma ardorosa defensora da obediência ao Papa, num período em que muitos se rebelavam contra a autoridade papal devido a questões econômicas, a própria conjuntura do fortalecimento dos Reinos, que viria, no século seguinte, culminar com a Reforma Religiosa e por uma disseminação de uma corrupção interna da Igreja, aliado a um desleixo com a vida religiosa do clero.

Ela é uma das três doutoras da Igreja entre muitos homens dignitários deste título, foi uma voz feminina de grande influência numa Igreja tradicionalmente masculina. Esteve envolvida em questões como a desavença entre Florença e o Papa, o retorno do Papa a Roma e a convocação de uma Cruzada contra os turcos. Criou-se em torno de si uma grande família que veio, após sua morte, divulgar seus escritos e dar continuidade a reforma religiosa, que se deu após a Reforma Protestante,
iniciada a principio, em sua própria Ordem Dominicana. Todo o discurso de Catarina está focado na Unificação da Igreja, na busca pela paz entre os cristãos.

Ela acredita que o meio de se alcançar esta Paz é primeiro pelo retorno do Papa a Roma e depois pela convocação de uma nova Cruzada contra os turcos, em defesa e resgate dos lugares sagrados da Terra Santa. Este desejo é um reflexo do período conturbado em que se encontrava não somente a sua cidade natal, Sena, como outras Cidades Estados Italianas. As desavenças contra o Papa provinham de longa data, e muito sangue já havia sido derramado em prol de se manter os Territórios Pontifícios sob o domínio da Igreja. Numa carta que analisaremos, em que escreve ao tirano de Milão, Bernabó Visconti, é bem nítida esta intenção de unidade e pacificação entre os cristãos.

Catarina é árdua defensora da Igreja, contudo não deixa de denunciar as incoerências que estavam a ocorrer. Sua obediência é incondicional, ela vai desenvolver um discurso muito parecido com o de São Francisco de Assis, por pior que seja o pecado do sacerdote, deve-se respeitá-lo e honrá-lo, pois é por meio dele que se recebe o “sagrado sangue” de Cristo. Francisco diz, ao invés do sangue, a Eucaristia. Ela, assim como ele, é conhecedora dos defeitos e dos desleixos do clero, contudo defende a hierarquia e não a rebeldia. Chega a declarar que não cabe aos homens o julgamento dos servos de Deus, somente Deus pode julgá-los e condená-los, aos homens cabe somente a obediência como
condição para sua salvação.


Fontes: Laboratório de Fé, História UFPR

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