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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Papa teria apoiado intervenção militar contra os extremistas no Iraque?


A comunidade internacional precisa assumir a responsabilidade de agir, mas sobretudo precisa encontrar soluções que não sejam destrutivas

Por Riccardo Cascioli

O Papa Francisco teria dado a sua aprovação sobre a intervenção militar no Iraque ou, ao contrário, teria desacelerado os pedidos que chegam até mesmo dos bispos? Esta é a pergunta que estava no ar ontem à noite após a coletiva de imprensa no avião que trazia o Papa de volta a Roma, após os quatro dias na Coreia. O Papa respondeu a uma série de perguntas que vão desde a crise internacional até seus hábitos particulares, com o seu estilo coloquial, mas certamente foram as palavras sobre o Iraque que chamaram mais a atenção da mídia.

Do ponto de vista doutrinário, o Papa Francisco não disse nada de novo ou de diferente em relação àquilo que já foi sustentado por seus antecessores, mas esclareceu algumas questões concretas que nascem, até mesmo, da experiência recente.

O primeiro ponto é que “onde existe uma agressão injusta, é lícito parar o agressor”. Mas o Papa ressaltou a palavra “parar”, porque não significa automaticamente “bombardear, ou fazer guerra”, e ali se referiu às tantas vezes que, “sob a desculpa de parar o agressor injusto, as potências tomaram posse dos povos e fizeram a verdadeira guerra de conquista”. Não é que uma intervenção militar direta seja excluída, mas “somente uma nação” não pode decidi-la. As intervenções adequadas para parar o agressor, disse o Papa, são avaliadas e decididas na sede das Nações Unidas. 

Nas palavras do Papa Francisco pode-se colher antes de tudo a preocupação que para decidir - como já aconteceu várias vezes nos conflitos daquela região - não sejam os Estados Unidos sozinhos a resolver com uma verdadeira e própria guerra, que depois não faz nada além de piorar uma situação já trágica. Mas no momento, isto parece um risco remoto: nem os Estados Unidos, nem outros países ocidentais demonstram a mínima vontade de se envolver diretamente em uma guerra contra o EI, para levar novamente para casa os cristãos e yazidis, que foram forçados a fugir para o Curdistão.

Pouco antes da coletiva de imprensa, o cardeal Fernando Filoni, enviado pelo Papa ao Curdistão, fez um apelo - por meio da Rádio Vaticano - por uma intervenção urgente da comunidade internacional antes que seja tarde demais para estas minorias religiosas. O cardeal Filoni assinalou que na ONU, mas também em New York, não parece existir muita pressa para enfrentar a situação.



Voltamos assim à pergunta: intervir sim, mas como ter alguma esperança em deter os homens do Califado e salvar os cristãos? Uma pista veio alguns dias do núncio apostólico na ONU em Genebra, Dom Silvano Tomasi, que tinha ressaltado a necessidade de bloquear o fluxo de dinheiro e armas que chegam para os jihadistas, sobretudo dos, ou por meio dos, países do Golfo. Mas também esta não é uma solução simples, porque a este ponto os jihadistas podem contar com o autofinanciamento, através da conquista de territórios e populações que são saqueadas.

Acima de tudo é necessário compreender que a guerra desencadeada pelos jihadistas não é um fato local, tem uma ligação não apenas ideal entre quantos - em nome do EI - combatem no Oriente Médio, na África e também na Ásia. A Europa é cada vez mais um alvo. Talvez não por acaso, o Papa Francisco, sempre nas coletivas de imprensa - e seguramente pensando também em outras situações de crises - comenta sobre a Terceira Guerra Mundial, na qual já estamos, mas é "realizada por partes, por capítulos”.

Por isso é mais que necessário que a ONU acorde, até mesmo que sejam primeiramente os países ocidentais a fazer com que as Nações Unidas tomem decisões urgentes e adequadas. Antes que os Estados Unidos e a Europa se encontrem numa situação onde tenham que combater no próprio território a guerra que não querem “parar” hoje no Oriente Médio e na África.

Fonte: Aleteia

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