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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Uma carta de onde e como estou


Escrevo estas singelas palavras para expressar os meus sentimentos reais, como tenho passado e como tenho visto este mundo. Quero que saibas da minha visão e esperança. É certo que sei quem sou e onde estou, e quanto a isto não quero que se exalte ou se deprima, mas para que saiba a verdade ou a síntese dela. O viver também é isto, comigo está o testemunho dos meus dias.


Então caro amigo, eis o que quero lhe dizer.


Escrevo de uma prisão, é verdade. Onde me encontro agora!
Porque parte de mim, sofre na sua inocência ou não, ter se jogado ao crime e vivendo esta realidade.


Lê estas palavras que foram tintadas com sangue, é o que sinto!
Porque parte de mim sofre as crueldades e as abertas feridas, feridas de todo tipo, feridas marginais, sociais e na carne reais.


Estás sabendo de mim, porque tenho escrevido com minha cor, sendo ela amarela, branca ou negra, tenho sofrido todo tipo de discriminação. Porque parte de mim sofre por viver nesta pele que ainda assim tenho orgulho de carregar.

Escrevo-te de uma solidão, sem mesmo saber escrever ou sem o direito de nascer. Porque parte de mim foi esquecido pela própria mãe ao se sucumbir ao ato macabro do aborto.



Amigo, estas letras as pode enxergar, porque não neguei minha Fé, mas por ela estou sofrendo e mesmo assim escrevendo. Porque parte de mim é considerado salteador ou mesmo infrator, por tão somente acreditar no Criador.


Escrevo de uma cama orgiasta, com muito choro e sem consolo, consolo que dou a muitos mas que não recebo e parece que não mereço. Um 'companheiro' ou cliente acabou de sair daqui, sorriu ao partir, seu nome não sei dizer, sua descendência não quis saber. Porque parte de mim, sofre ao ser como utensílio e objeto de prazer.


Tenho anotado estas letras com o suor da face, porque tenho corrido da fome e da falta de boa-nova. Todos me chamam de ladrão, porque primeiro cometi para comprar pão. Porque parte de mim sofre ao saltear e não entender esta insana forma de viver.

Escrevo com meus suspiros, são poucos na verdade, quase não se ouvem, mas é o único sinal de vida que ainda tenho neste leito, ou melhor maca de corredor, por onde muitos passam e não tem tempo de olhar minha situação. Será que meu estado tem jeito ou não? Porque parte de mim sofre por falta de tratos.



Escrevo com conhecimento da situação, metido eu nesta política de casos ou descasos absurdos, onde autoridades se fazem mudos ou surdos, e não cumprem o seu belo dever. Porque parte de mim sofre ao querer mudar o mundo, mas dentro de um âmbito imundo, chora um desprazer.


Escrevo, ou melhor, desenho letras, por não ter aprendido a escrever aquilo que sempre quero dizer, mas por analfabeto ser, encontro barreiras, desemprego, destrato como se eu não fosse um Ser. Porque parte de mim sofre na falta de oportunidade da qual não fui eu o ator, mas que nela nasci, cresci e não consigo sair.


Escrevo-te meu ainda amigo, querendo sair desta overdose, onde vejo vultos, que neste momento acabo de cheirar tudo. Queimei todo meu futuro. Porque parte de mim sofre nas drogas, sofre nas doiduras e fugidas fáceis de cada problema familiar.


Escrevo não mais com lágrimas, pois estas já se secaram. Estando eu em situação de infidelidade, traí achando ser gostoso e mui prazeroso. 


Escrevo com um lápis que achei na lata de lixo, porque fui esquecido, um órfão que não teve calor de mãe e muito menos do pai. Pai cadê o senhor, porque é que me abandonou??


Escrevo com a minha história, sendo um caco, um desguarnecido, desvalido, um marido traído. Escrevo da minha solidão, ainda tão jovem perdi metade de meu coração, que agora numa viuvês e não consigo outro homem tão cortês. Escrevo tendo muita fome, ser tratado como um caso perdido, por rico não ter nascido e sendo pobre não sei mais o que fazer.


Escrevo com a vida, escolhida para servir. Olhando diante do Altar os fiéis que vem rezar e das minhas reflexões escutar para Deus seus problemas livrar. Porque parte de mim sofre o desrespeito do mundo, por nele viver e a ele não me oferecer.


Escrevo do alto de uma cruz, onde jorra sangue como sinal de salvação. Porque parte de mim escolheu suas dores e as guardou no coração. Porque parte de mim se ofertou e se entregou no seu lugar, para nunca lá estar quando na segunda vinda voltar. Porque parte de mim venceu, todo mal que te ofendeu e que falsos amores te prometeu. Porque parte de mim escolheu te amar e 
prometeu nunca te deixar, mesmo que seja necessário tudo de novo realizar.


Declamo a ti a verdade crua. História minha e sua.
Porque parte de mim sou eu e a outra parte és tu 
que na verdade somos um 
e na unidade eterna viverá! 


Onde não há ferrugem nem horror
Mas na alegria núpciosa
Santa e jubilosa
viveremos a plenitude do Amor!

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